Márcio Coimbra
Democracias
Márcio Coimbra
Cientista político, presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica, ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado
O Brasil deve voltar seus olhos para a eleição presidencial americana. O populismo que levou Donald Trump ao poder também surgiu por aqui e foi responsável pela eleição de Jair Bolsonaro. Curiosamente, foram presidentes de apenas um mandato e vencidos por nomes que encarnaram um simbolismo de rejeição ao estilo de liderança impresso por ambos. Isso significa que tanto Biden quanto Lula venceram mais pela rejeição causada por Trump e Bolsonaro do que por suas próprias virtudes.
Um novo capítulo dessa história começa a ser contado nos Estados Unidos. Assim como Bolsonaro, Trump enfrenta problemas com a Justiça. Porém, ao contrário do brasileiro, deve manter seu direito de concorrer nas primárias e, caso obtenha a indicação do partido, irá em busca de sua redenção, que significa voltar ao comando do país.
A dúvida que paira até o momento em Washington é saber se Biden, que concorrerá a um novo mandato, terá forças para vencer Trump. Mais do que isso, é preciso calcular se a rejeição de Trump será suficiente para entregar um novo mandato para Biden, assim como em 2020. Este cálculo pode balizar a escolha dos republicanos nas primárias, uma vez que, sem Trump e sua rejeição na jogada, as chances de vitória aumentam.
Para além disso, os ensinamentos do pleito americano, assim como em 2016 e 2020, nos fornecem dicas valiosas sobre o cenário eleitoral brasileiro, assim como vimos em 2018 e 2022. Isso significa que 2024 pode sugerir para qual sentido a onda eleitoral de 2026 pode se direcionar. A vitória de alguém como Ron DeSantis, por exemplo, mostra que existe um espaço dentro da direita para um novo nome, como por exemplo, o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. De outro lado, a reeleição de Biden fortalece a leitura de continuidade, o que favoreceria uma reeleição de Lula.
Tudo ainda são conjecturas. Porém, fato é que estamos falando de duas ondas similares, que chegaram quase instantaneamente aos dois países e que levaram líderes de uma direita populista ao poder. Além disso, ambos foram vencidos na tentativa de reeleição por candidatos mais à esquerda, dentro de um discurso centrista, no pós-pandemia, embalados, especialmente, pela rejeição ao oponente. Se a onda continuar a produzir os mesmos efeitos nos dois países, em 2024 poderemos estar novamente assistindo a uma prévia do que virá dois anos depois no Brasil.
Líderes populistas circulam entre o amor e ódio, ou seja, pela aceitação cega ou pela rejeição plena, uma vez que movem seus discursos pela emoção, jamais pela razão. São o grande mal da política, pois transitam pela direita e pela esquerda e, geralmente, causam desequilíbrios institucionais, mesmo nas democracias mais sólidas, como vimos no caso americano e até naquelas ainda em formação, como recentemente no Brasil.
O populismo jamais está vencido. O modelo vive de ondas, que embaladas e correlatas, geram resultados similares em diversos pontos do mundo. Na última década há um claro movimento nesse sentido e precisamos observar se refluem ou estão ganhando força. A eleição presidencial americana será um forte indicativo dos rumos tomados dessa onda. Um pleito para ser acompanhado de perto e que pode indicar o futuro por aqui.
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